quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Cioran, angústia e ceticismo.


Cioran, angústia e ceticismo.

Discutiremos a possibilidade de uma noção de angústia em Emil Cioran que estaria relacionada com o entendimento de uma vida radicalmente desprovida de sentido a partir do ato de filosofar.  Discutindo a partir do seguinte aforismo; “O ceticismo é o último brado de coragem da filosofia, para além dele só existe o caos” compreendemos que o conceito de caos em Cioran se relaciona em alguma medida com o sentimento de angústia e pode servir ao ato do filosofar dentro das concepções limítrofes do ser humano.
Palavras-chave; Angústia, ceticismo, caos.
  • Cioran nos disse certa vez em o breviário de decomposição que; “enquanto continuarmos a acreditar na filosofia manteríamos a saude e que seriamos irrompidos pela doença ao começar a pensar” Não seria um tipo de paradoxo?  O próprio ato de filosofar não seria ele mesmo o ato de raciocinar? Para Emil Cioran em um sentido completamente majoritário a Própria filosofia seria um tipo de teologia, não só ela assim como várias atividades humanas que são criadoras de sentido para um mundo sem sentido, ou seja, neste contexto para o filosofo o ato de raciocinar estaria ligado a ter noção diante da finitude assim como da total falta de sentido da existência.
  • A questão fundamental aqui se dará em relação a possibilidade de entender como poderíamos utilizar o sentimento de angústia e de falta de sentido de um cosmos cioranico para uma superação da própria concepção do filosofar.
  • Ainda aqui Cioran nos faz refletir paradoxalmente em relação a como ao mesmo tempo que precisamos de sentidos para continuarmos a afirmar a existência, inclusive para o próprio ato filosófico, a falta dele poderia nos conferir um filosofar de parâmetros mais autênticos e não nos fazer ceifar a existência e ainda nos provocaria um debruçar sobre aquilo que Cioran consideraria um ceticismo crítico.
A angústia e situações limite
A filosofia do ceticismo crítico se pretende afirmar como um tipo de filosofia que reflete e age diante de situações e conceitos limite, ou seja, temas caros a humanidade. Em outras palavras referente as situações que consideraríamos mais angustiantes no que se confere a relação intrínseca com nossas vidas, como por exemplo temas como Deus, a morte, a loucura ou a violência. O ceticismo crítico em seu aspecto negativo não se pretenderia afirmar como um substituto dogmático, ao menos não tanto quanto a prisão "teológica" de uma visão positiva da realidade.
 Fatalidade e Diógenes de Sínope
A figura de Diógenes de Sínope o cínico seria um grande exemplo da concepção limite contida na interpretação negativa da realidade de Cioran, negativa no sentido de sempre se colocar como um grande desafiador do caos,  que seria uma postura cética para o romeno, que sempre se colocaria diante da possibilidade de um estado caótico mesmo que sendo tendencioso de uma forma mais forte a este estado, o cético assim como o cínico Diógenes, não cristalizaria o estado de caos, ele por vontade própria sempre se colocaria em uma condição limite por disposição, e não por acreditar ser a única realidade experimentável ou ainda por sempre tender a uma interpretação agradável da realidade, muito pelo contrário.  Diante disto a partir da concepção filosófica de Emil Cioran estaria o livrar-se das amarras de noções ilusórias como por exemplo o apego a conceitos de passado e futuro aos quais tanto nos amarraríamos emocionalmente, ou seja, despertando um sentimento de angústia diante daquilo que chamaríamos fatalidade ou o inevitável, o fato já consumado, aquilo que de fato não podemos contornar e que está presente em todas as coisas, e da qual não poderíamos fugir por mais frustrante que algo nos pareça. Ao sermos contaminados pelo ceticismo crítico seríamos inclinados a sobreviver as mais fortes sensações de angustia mesmo diante do vazio completo, ao menos na visão do romeno. Neste sentido sobreviveríamos a nos mesmos de modo opcional por uma tendência a este modo de pensar, inclusive diante da sensação inconveniente do existir. Só a angustia diante da morte sustentaria o raciocinar para o filósofo, não a morte em si, mas a implacável obsessão pela mesma.

Referências;
Breviário de Decomposição, tradução do francês de José Thomaz Brum, Editora Rocco, 2011
O Livro das Ilusões, tradução de José Thomaz Brum, Editora Rocco, 2014.

A MORTE NA FILOSOFIA DE E.M CIORAN: Caminhos para o niilismo ABREU, Jheovanne Gamaliel Silva de.1 LIRA, Luédlley Raynner de Souza

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