Cioran,
angústia e ceticismo.
Discutiremos a possibilidade de uma noção
de angústia em Emil Cioran que estaria relacionada com o entendimento de uma
vida radicalmente desprovida de sentido a partir do ato de filosofar.
Discutindo a partir do seguinte aforismo; “O ceticismo é o último
brado de coragem da filosofia, para além dele só existe o caos” compreendemos
que o conceito de caos em Cioran se relaciona em alguma medida com o sentimento
de angústia e pode servir ao ato do filosofar dentro das concepções limítrofes
do ser humano.
Palavras-chave; Angústia, ceticismo, caos.
- Cioran
nos disse certa vez em o breviário de decomposição que; “enquanto
continuarmos a acreditar na filosofia manteríamos a saude e que seriamos
irrompidos pela doença ao começar a pensar” Não seria um tipo de
paradoxo? O próprio ato de filosofar não seria ele mesmo o ato de
raciocinar? Para Emil Cioran em um sentido completamente majoritário a
Própria filosofia seria um tipo de teologia, não só ela assim como várias
atividades humanas que são criadoras de sentido para um mundo sem sentido,
ou seja, neste contexto para o filosofo o ato de raciocinar estaria ligado
a ter noção diante da finitude assim como da total falta de sentido
da existência.
- A
questão fundamental aqui se dará em relação a possibilidade de entender como poderíamos
utilizar o sentimento de angústia e de falta de sentido de um cosmos
cioranico para uma superação da própria concepção do filosofar.
- Ainda
aqui Cioran nos faz refletir paradoxalmente em relação a como ao mesmo
tempo que precisamos de sentidos para continuarmos a afirmar a
existência, inclusive para o próprio ato filosófico, a falta dele poderia
nos conferir um filosofar de parâmetros mais autênticos e não
nos fazer ceifar a existência e ainda nos provocaria um
debruçar sobre aquilo que Cioran consideraria um ceticismo
crítico.
A angústia e situações limite
A filosofia do ceticismo crítico se pretende
afirmar como um tipo de filosofia que reflete e age diante
de situações e conceitos limite, ou seja, temas caros a
humanidade. Em outras palavras referente as situações que consideraríamos mais
angustiantes no que se confere a relação intrínseca com nossas
vidas, como por exemplo temas como Deus, a morte, a loucura ou a
violência. O ceticismo crítico em seu aspecto negativo não se
pretenderia afirmar como um substituto dogmático, ao menos não tanto quanto
a prisão "teológica" de uma visão positiva da realidade.
Fatalidade e Diógenes
de Sínope
A figura de Diógenes de Sínope o cínico seria um
grande exemplo da concepção limite contida na interpretação negativa
da realidade de Cioran, negativa no sentido de sempre se colocar como
um grande desafiador do caos, que
seria uma postura cética para o romeno, que sempre se colocaria diante da
possibilidade de um estado caótico mesmo que sendo tendencioso de uma forma mais
forte a este estado, o cético assim como o cínico Diógenes, não cristalizaria o
estado de caos, ele por vontade própria sempre se colocaria em uma condição
limite por disposição, e não por acreditar ser a única realidade experimentável
ou ainda por sempre tender a uma interpretação agradável da realidade,
muito pelo contrário. Diante disto a partir da concepção filosófica
de Emil Cioran estaria o livrar-se das amarras de noções ilusórias como por
exemplo o apego a conceitos de passado e futuro aos quais tanto nos amarraríamos
emocionalmente, ou seja, despertando um sentimento de angústia diante daquilo
que chamaríamos fatalidade ou o inevitável, o fato já consumado, aquilo que de
fato não podemos contornar e que está presente em todas as coisas, e da qual
não poderíamos fugir por mais frustrante que algo nos pareça. Ao sermos
contaminados pelo ceticismo crítico seríamos inclinados a
sobreviver as mais fortes sensações de angustia mesmo diante do vazio
completo, ao menos na visão do romeno. Neste sentido sobreviveríamos a nos
mesmos de modo opcional por uma tendência a este modo de pensar,
inclusive diante da sensação inconveniente do existir. Só a
angustia diante da morte sustentaria o raciocinar para o filósofo, não
a morte em si, mas a implacável obsessão pela mesma.
Referências;
Breviário de Decomposição, tradução do francês de
José Thomaz Brum, Editora Rocco, 2011
O Livro das Ilusões, tradução de José Thomaz Brum,
Editora Rocco, 2014.
A MORTE NA FILOSOFIA DE E.M CIORAN: Caminhos para o
niilismo ABREU, Jheovanne Gamaliel Silva de.1 LIRA, Luédlley Raynner de Souza